Pensamentos, idéias, histórias... Nathalhices!

Minhas aventuras pela Terra Santa!

quarta-feira, novembro 29, 2006

Caminhando e cantando e seguindo a canção

Dei um pulo hoje no Café onde estava trabalhando antes de entrar pra Agência Judaica. Vi que era a gerente que eu gosto que estava lá e entrei - afinal, passo lá em frente todos os dias, fica há 2 minutos da minha casa.

Quando estava saindo, a garçonete mais rabugenta e fechada de lá me parou e disse:

- Você é uma das pessoas mais iluminadas e especiais que eu conheci na vida. Interioriza isso.

Me deu um abraço e um beijo.

* Ontem fizemos sessão de fotos com o Ri no hotel King David. Ele tinha que fazer uma foto de um grupo de pessoas próximas a ele e nós (os amigos) nos reunimos e fizemos uma mega produção. Ficou show! E ainda levantou meu astral! Vou pedir as fotos a ele e posto no fotolog!

* Fui a primeira a terminar a prova de inglês que eu fiz hoje na facul. O que será que isso quer dizer?! rs

* A vida anda tão corrida que esqueci essa semana do aniversário da minha irmã israelense, a Adi. Shit! Se eu esqueci mais algum nos últimos tempos, please, perdoem-me...

terça-feira, novembro 28, 2006

Faz tempo que o meu coração não bate assim...

Capítulo final: Choro e despedida

São agora 4:42 da manhã. Cheguei em casa aos prantos.
Às 22:31, estava jantando na casa da Deia e da Ellen quando meu celular tocou e apareceu na tela o nome 'Não!'. Era ele. Senti um frio na barriga.

Sabia que ele tinha passagem pro dia 6 de dezembro e que tinha me prometido uma despedida. Ligou cedo demais para os horários dos nossos encontros, estranhei. Perguntei se era hoje que ele vinha se despedir. Já estava há alguns dias me preparando pra isso. O que é que ele me disse?

- Você sabe quando eu viajo? Hoje à noite. Mudei a passagem.
- Porque você mentiu pra mim?
- Babe, eu mudei a passagem, era dia 6 mesmo.
- Tô sem bateria no celular. Não brinca.
- Então carrega ele até às 01:30. Quer vir me ajudar a fechar a mala?

Depois que eu deliguei o telefone, me deu uma crise de choro. Podem rir, mas já faziam quase 4 meses que estávamos 'juntos', me acostumei com ele. As horas voam quando estamos juntos, é tão gostoso, divertido, engraçado... Viramos muito mais do que amantes, e hoje eu tive certeza disso.

Me ligou na hora combinada e disse que ainda precisava se despedir de um amigo, perguntou se não tinha problema me ligar mais tarde ainda. Claro que não. Deitei e coloquei o celular embaixo do travesseiro.

3:30 da manhã e ele me avisa que esta na porta. Eu levantei, escovei os dentes e saí. Entro no carro e ele começa a cantar a música do rádio. Geralmente cheio de joguinhos, olha pra mim e se inclina, pedindo um beijo. Eu, que ainda estava mais pra lá do que pra cá, continuei sem reação no carro. Não estava acreditando naquilo, só podia ser um pesadelo.

Esfreguei os olhos e eu estava no mesmo lugar. Chegamos na casa dele. Pela primeira vez, aliás, eu fui na casa dele. Mora há pouco mais de 5 minutos do meu apê.

Entramos na casa (que é muito bonita, por sinal), ele me deixou no quarto dele e foi falar com a mãe, que dormia no quarto ao lado. Enquanto ele conversava com ela, eu via as malas prontas, a passagem em cima da cama. Abri para espiar as datas, a passagem está aberta até novembro do ano que vem. Tinha uma foto de uma menina numa das prateleiras. Provavelmente a namorada dele.

Quando ele entrou no quarto novamente, eu perguntei sobre o vôo. Me disse que saía de Jerusalém em direção ao aeroporto em uma hora. Arrumou o que faltava e se sentou ao meu lado. Todo o assunto que sempre tínhamos, as gargalhadas, brincadeiras... Nada estava lá. No mais longo silêncio desde que nos conhecemos, um abraço muito apertado. Começam a cair lágrimas dos meus olhos. Ele me aperta com mais força.

- Vou te bater se continuar chorando - tenta quebrar o gelo. Não adianta. Outro abraço e começam os beijos, que ele já estava ficando preguiçoso de dar. Mas a gente não tem tempo...

Meu querido Sujinho contou então que embarcava às 7:30 da manhã e que ia ficar na casa da irmã, que mora em Londres. Eu contei que estava de trabalho novo e muito feliz lá.

A mãe dele entra no quarto e nos pega abraçados. Nos afastamos. Ela chega falando inglês com aquele sotaque britânico lindo. Se assusta em me ver ali, sentada na cama com o filho dela, poucas horas antes da partida. Mas os dois continuam discutindo detalhes da saída dele (Nadav só a respondia em hebraico, enquanto que ela só falava inglês).

Então pedi pra ele me trazer de volta pra casa. Ele pediu que eu anotasse o telefone novo dele, eu disse que não, que já era hora dele sair da minha vida. Com olhar de cachorro sem dono, parou na minha frente e disse 'Nu?' (= Então?). Não respondi.

Descemos pelo elevador, outro abraço apertado. Entramos no carro e eu disse pra ele que ainda devia estar dormindo, tudo aquilo era um pesadelo e que eu não ia lembrar nada no dia seguinte. Ele diz 'Melhor assim. Você precisa de alguém que te dê valor'. Eu não respondi.

Perguntou quantos anos eu ia ficar em Israel.
- Pelo menos 3, por que?
- Então, porquê você está preocupada? Volto antes disso.
- Ah, tudo bem então (risos).
- Porquê você não vai passar umas férias comigo? 200 dólares a passagem, é pertinho, 4 horas.
- Pára de dificultar a minha vida - e eu começo a chorar de novo.

Ele olha pra mim e diz que queria me dizer umas coisas.

- Você é muito especial, eu fiquei muito feliz em ter te conhecido e gosto muito de você.
- Porquê a gente não se conheceu antes? Porque as coisas não foram diferentes?

Ele vira a cabeça pro outro lado e tenta esconder o rosto. Me olha, então, de repente com os olhos vermelhos e cheios de lágrimas. Estava achando que eu que era sensível demais, boba, chorona, sei lá. Mas ele? Aí sim que eu desatei no choro.

Chegamos na porta da minha casa e saímos do carro pra fumar um cigarro.

- Pelo menos você está feliz com a viagem?
- Agora você vai poder me ligar a hora que quiser - diz.
- Engraçadinho. E a sua namorada? Ela não vai com você?
- Não tem nada certo, e ela só termina o exército em janeiro.
- Soldada ainda? Ai, meu Ds! Ops, desculpa, não é da minha conta.
- É sim, pode perguntar o que quiser.
- Porque não vamos juntos ao Brasil ano que vem?
- Se eu tiver ganhando bem lá, vou com você pra onde for.
- Eu vou te visitar sim.
- Então quer anotar meu telefone e email, por favor?

Eu anoto o e mail. O telefone ele não sabia de cabeça.

Abraço forte. Aquele beijo inesquecível. As mãos, antes entrelaçadas, vão se soltando devagar, exatamente que nem nos filmes!

Ele entra no carro e eu digo: 'Juízo, menino'. Liga o carro e começa a ir embora. Eu finjo que viro pra entrar no prédio e viro pra trás, vejo a sombra do cabelo espetadinho dele. E começo a chorar de novo...

Cheguei em casa e liguei o computador direto. Precisava desabafar. Tô muito triste hoje, espero que passe logo. Ele acabou de me ligar do carro, já está à caminho do aeroporto. Me deu o telefone dele de lá.
- Laila tov, babe (= boa noite).
- Boa viagem, querido.

sábado, novembro 25, 2006

Todas as tribos

É shabat e meus dois flatmates viajaram. Estou agora curtindo a tranquilidade e sossego de estar sozinha no apê pela primeira vez desde o início das aulas. Ontem recebi amigos pra um jantar com direito à batata frita feita em casa (por mim!), franguinho, massa do Ri e até mousse de chocolate de sobremesa, mais violão e vinho. Delícia, não?

Eis que me perguntam onde estavam meus shutafim (= flatmates, em hebraico), e eu respondo:
- Cada um com a sua família, o Gal em Kfar Shmaryiahu e o Shay no kibbutz, no norte.
E o Ricardo bem lembra 'Isso é Israel'.

Eu já contei pra vocês que morar com pessoas que você nunca viu na vida é suuuuper comum aqui, não?
Funciona assim: Você entra num dos sites de busca, escolhe a área que quer, se fuma ou não, se respeita o shabat e a kashrut ou não; liga e vai ver o lugar. Como a procura está cada vez maior, a competição é sempre entre mais de 40 candidatos. Se dá sorte, junto com você estão apenas mais dois ou três interessados - e aí os entrevistadores podem te dar mais atenção e tentar te conhecer um pouco. Os já moradores do apê que está com um quarto vazio te levam pra uma volta pela casa, explicam as regras básicas e te fazem a entrevista. Daí é só rezar pra te escolherem entre os 392836...

O meu caso foi diferente. Muitas casas com gente e regras, digamos, esquisitas. Escutei coisas do tipo 'aqui só limpa quem quiser' ou 'se você tiver namorado, que ele só venha uma vez por semana pro apartamento'.

Cansada de ir às entrevistas e não sair nada (acho que tinha maiores chances de ganhar na loto, mesmo sem jogar) e depois de conhecer o Gal, resolvemos procurar um apartamento vazio pra alugar e morar juntos. Tinha mais uma menina na história (que nos apresentou, por sinal) mas isso não é mais relevante. Eu sabia que morar com mulher de novo ia me dar dor de cabeça.

Então, eu e o Gal achamos esse apartamento simpático em Rehavia, bairro nobre de Jerusalém, onde moramos há 2 meses. Como a casa tem 3 quartos, colocamos anúncio na internet e entrevistamos mais de 40 pessoas num intervalo de 4 horas. Depois, com as anotações sobre todos os candidatos na mão, ligamos pros 3 que mais queríamos como 'terceiro elemento'. Cada um tinha seguido um rumo diferente ou não estava mais interessado no apê. Eis que liga o Shay pra saber se já tinhamos decidido, e decidimos então por ele.

O Shay veio de um kibbutz modesto no norte do país. Tímido, de aparência 'estranha', digamos. Mas é um doce de pessoa. O único que presta atenção nos meus bilhetes e segue à risca meu modelo de 'como limpar a casa'. Estuda Animação em Bezalel. Está sempre disposto a ajudar. Fez mochilão na América do Sul. Não fuma, não bebe, e pelo visto também não fode.

O Gal morava em Kfar Shmaryiahu, top do top da high society israelense. O conheci na caça por apê e, como nós dizemos sempre, foi love at first sight. Começamos a sair juntos sempre, ligações todos os dias. Eu estava certa de que morar com ele seria maravilhoso. Pessoa boa, calma, inteligente. Nasceu na África do Sul e aos 7 anos se mudou pros EUA. Aos 11 veio morar aqui. Estuda Comunicacão visual, também em Bezalel. Avoado, viajante, um doce de pessoa, sempre sorrindo e otimista. Mas...

Tô pra matar ele. Matar mesmo. Tudo comecou quando o melhor amigo dele veio aqui em casa e conseguiu quebrar todas as regras da casa e outras que nem existiam ainda. Música alta de manhã, restos de comida por toda a cozinha, louça na pia, boiler ligado, toalha no chão = visão do inferno.

O Gal, fofo, me pediu mil descupas e me garantiu que o menino ia se comportar como um ser humano da próxima vez. Mas aí descobri que o avoado do meu flatmate ia me dar trabalho. Essa agora foi a segunda semana que ele tinha que limpar o apê (segundo a lista que fica pendurada na geladeira), e pela segunda vez ele viajou e esqueceu. Óbvio que eu não quis ficar na imundice e limpei, de novo.

Entro no quarto dele pra pegar não sei o que e vejo que de novo ele viajou e esqueceu o aquecedor do quarto ligado. De novo ele tomou chá e deixou o saquinho molhado em cima da pia. De novo esqueceu o boiler ligado.

Me lembrei como eu era há pouco mais de um ano. O nojo que eu tinha de ficar limpando a casa, como manchava as roupas na lavanderia e até mesmo deixava o boiler ligado, pelo simples fato de não estar acostumada a desligar nada quando saía do banho. Depois da primeira conta de luz alta, entrei no esquema.

Está aí, essa é a minha casa. Eu, uma olá chadasha ('nova imigrante'), um kibbutznik e um riquinho mimado. Isso é Israel.

* Querem ver foto da placa que o Shay pintou pra nossa porta? Cliquem aqui.

* A amiga de vocês não é mais garconete, pelo menos não por enquanto. Começo amanhã a trabalhar no atendimento à clientes da Agência Judaica. Estou super feliz. Conto mais em breve!

quarta-feira, novembro 15, 2006

Pedrinha no sapato

Meu coração não fica assim tão apertado desde que eu saí do Brasil. Aquela sensação de estar se separando de pessoas queridas, que você não sabe quando vai ver novamente. Pessoas que preenchem a sua vida e que dão sentido à ela. Pessoas perto das quais você se sente o mais autêntico você, que te entendem por um gesto mínimo. Pessoas que você quer pra sempre levar no coração.

Eu já tenho umas pessoas aqui assim, mas o lugar daquelas ninguém tira. Eu confesso que a gente acaba se acostumando com esse incômodo. Ele não some, nunca. Tá sempre ali, aquela pedrinha no sapato. Às vezes, você sente mais a pressão, dói. Mas, pra sufocar a tristeza, a gente acaba chegando num acordo com ela.

Hoje eu acordei e senti que ganhei mais uma pedrinha no meu sapato, que já esta pesado, cheio de pedras preciosas. É o Sujinho.

Ontem à noite eu quase fui pra um blind date. Mas desisti bem antes de cometer a loucura de viajar até Tel Aviv pra isso. Sosseguei aqui em Jerusa e fui comer lasanha na casa do Ri. Depois fomos pra casa da Alexia, uma espanhola que estuda com ele, e tiramos fotos pra um trabalho da faculdade do Ri. De lá, partimos pra uma cerveja. Estava toda maquiada, por causa da produção das fotos. Fiquei um pouquinho e decidi, à uma da manhã, que era hora de dormir. Hoje eu tinha aula de manhã cedo e trabalho à noite.

Do bar, mandei aquela mensagem pro Sujinho com um ponto final, ".". É o nosso sinal de que eu quero vê-lo. Eu tinha certeza que ele estava em algum lugar por ali, no centro. Ele não respondeu e eu voltei pra casa.

Coloco o pijama, lavo o rosto até sair toda aquela maquiagem e coloco uma máscara hidratante verde na cara. Ele me liga:

- Eu vou porquê nós precisamos conversar.
- Conversar? (digo eu, revoltada)
- Sim, se você quiser pode me fazer massagem também (risos).
- Não quero conversar. Já sei o que é, e eu não quero me separar de você.
- Como voce sabe o que é?
- Porque só existem duas opções, ou você vai me dizer que não pode mais me ver ou vai me pedir em casamento.
- E qual delas você acha que é a melhor?
- Pra você? Casar comigo, voce só nao sabe ainda.
- Tô aqui em frente, não tem vaga na droga da sua rua. Vem aqui fora.
- Não quero, tô de pijama.

Tiro a máscara verde da cara e saio eu, de pijama, pra ajudá-lo a encontrar vaga. Encontramos. Eu vou abracá-lo e ele se afasta. `Vim pra conversar`. Chegamos em casa e meus dois flatmates estavam acordados. Ele entra correndo no quarto, pra não ser visto. Bobo.

Acende um cigarro pra mim, outro pra ele, e comeca a fuxicar minhas coisas. Ele tem essa mania, desde a primeira vez que veio aqui. Abre armários, pergunta sobre as fotos, vê os filmes. Ontem vimos o dvd do Brasil que mostra o shabat que fizemos na casa da Fefa e os preparativos pro meu churrasco de aniversário em Itaipava. Eu e a Lygia às seis da manha no Mc Donald's, o Shenanigan's. Ele morreu de rir com a gente cantando musiquinhas em hebraico.

Me perguntou se eu já tinha arrumado um namorado. Perguntou onde eu estive ontem e com quem. Pegou meu celular e viu as últimas chamadas feitas, e ler os nomes dos homens em voz alta. Viu que troquei o nome dele por `Não!`. Sugeriu que eu trocasse por `Realmente não!`, porque só o `Não!` não estava fazendo efeito.

Foram horas de conversa fiada, risos, brincadeiras - há muito tempo não me divertia tanto. Tinha vontade de congelar as horas, não pensar na realidade, estar presa naquelas gargalhadas, cosquinhas, abracos. Quando a claridade comecou a bater na janela, nos abraçamos com força.
Eu perguntei se ela ia com ele. Me disse que o encontra em Londres em Janeiro. Minha vez de acender dois cigarros.

- Você não se sente culpado de mudar a vida de outra pessoa assim, à toa? Porque se você a trai aqui, certamente lá nao vai ser diferente.
- Não, é pro bem dela. Não tem o que fazer aqui. Além disso, já te disse, eu não costumo traí-la.
- Você sabe que já fazem quase 3 meses que a gente tá junto?
- 3 meses? Impossível! (refresquei a memória dele)
- Tá vendo, hora de acabar com isso mesmo. Não é possível que não tenha achado ninguém nesse tempo.
- Se você quer saber a verdade, desde que eu te conheci não saí com mais ninguém.
- Mentira, pára.
- Verdade.
- Mentira! E as 3 semanas que eu nao te atendi?
- Eu fiquei desesperada.
- Eu sou uma doença!
- Sim, senhor.
- E ainda assim você diz que eu sou `na média`, né?
- hahahaha

Claro, né, gente? Vou deixar o menino achando que é o méximo? Ontem até reclamei da preguiça dele. Me pediu pra dizer o que ele tem que mudar.

- Eu? Claro que não. Pra você ir praticar com as inglesas?
- Pois é, as inglesas devem ser muito ruins mesmo, estou mais que bom pra elas.
- Não exagera, vai (risos). Agora fala, o que é que você queria me dizer?
- Essa foi a última vez, babe.
- Não concordo.
- Alguém te perguntou? (risos)
- Baixa a bola. Não concordo. Você viaja em duas semanas, nao é isso? Pelo menos mais duas vezes. E uma delas você dorme aqui.
- Opa, opa! Como assim? Tá, uma vez eu durmo aqui. Prometo que venho pelo menos uma vez.
- E daí você leva sua escova de dentes embora, toda vez que eu vou escovar os dentes a vejo e lembro da sua cara feia.
- Tá prometido.
- E quando você voltar também. Promete que a gente vai se encontrar.
- Eu nem fui ainda...
- Quando você volta?
- Não acho que vá voltar a morar aqui um dia. Mas venho em Pessach visitar, tenho que vir, senão minha mãe me mata.
- E Chanuka? Purim? Iom Haatzmaut?
- Chanuka é agora.
- Duvido que você não volte. Sua família, sua casa, seus amigos, 23 anos da sua vida...
- Você não está aqui?
- Sim, por enquanto. Vai saber. E você não sabe o quanto isso dói.
- Claro que a gente vai se encontrar quando eu vier. Prometo. Me leva na porta?

Ele foi embora.
(Querem ver foto dele? Aqui.)

sábado, novembro 11, 2006

Batman, o retorno

Minha vida é um filme. Não, não, novela. Pode ser. Entre as mexicanas e os sitcoms americanos (mais especificamente Sex and the Holy City - não quero saber de cópias, esse vai ser o nome no meu livro!!!).

Ontem me deliciei na Parada Gay aqui em Jerusa. Cada delícia, literalmente. Triste. Daí repensei nos motivos das minhas aventuras sem fim. Ok, ok, é divertido. Mas aqui tá chegando o inverno, galera. E o inverno aqui pega. Além do mais, já estou comemorando 4 anos de solteira. Nem que seja só pra temporada, vai. Tá na hora.

A verdade é que agora eu identifico as causas da minha solteirice crônica:
1) Realmente, o que o Brasil tem de malandros, Israel tem de bichas.

2) Depois de uma série de 'relacionamentos' com caras comprometidos, sei que até os mais santos traem as namoradas. E sei quão boa é a parte da amante. Pra que que eu vou deixar de ter parte boa pra ser corna?

3) Descobri que eu não suporto mais bagunça. Isso é novo, de morar sozinha e ter sempre que limpar e cuidar de tudo, mas aconteceu. Uma vez que eu vejo a cama desfeita, a louça fora do lugar, um queijo mal fechado na geladeira, um boiler que esquecem ligado... Eu fico louca! E olhem, vocês sabem como eu era.
Durante toda a minha faculdade, eu fui dormir na cama da minha mãe porque a minha era uma montanha de roupas. As pessoas mudam, há de existir esperança nesse mundo! O que é que isso tem a ver com a solteirice? Não vou suportar ninguém vindo bagunçar a minha casa!!!

4) Quando eu conheço alguém, imagino o que seria daqui a 5 anos e multiplico os defeitos da pessoas por 5. Daí já penso 'Shiiii, não vou aguentar'. Afinal, sempre pode ser que encontre alguém melhor. Por sinal, esse negócio de ficar com um só e abrir mão de todas as outras possibilidades é meio assustador. Especialmente na minha idade. Outro dia já estava conversando com o meu vizinho sobre isso, que agora qualquer relacionamento que a gente tem acaba tendo um peso muito maior, o peso da idade. Foda.

5) Se a pessoa passa por todos os quesitos anteriores, eu dou um jeito de assustá-la tremendamente. Quando eu gosto de alguém, eu digo que odeio. Esse fenômeno foi observado algumas vezes nos últimos meses, até que ontem meu amigo Paulo me perguntou se não era uma defesa. E tá aí, acho que ele acertou em cheio. Eu dou um jeito de afastar a pessoa. Agora já sabem, se eu disser que odeio vocês, não acreditem! Se eu disser 'você não tem idéia do quanto eu te odeio', aí... Apaixonei.

Eu disse isso ontem. Acordei e fui pra Parada Gay. Depois que voltei pra casa e mandei a matéria pro Jotinha, recebi a visita do meu querido amigo Avi e ele me carregou à força pro Yoshua.

O Yoshua é um dos poucos pubs que eu frequento nesse vilarejo, desde que eu cheguei em Israel. De uns tempos pra cá, andei escutando que ele tem fama de ser o maior pick-up bar de Jerusa. Sabem o que é isso, né? (Pra quem pensou `não' = pegar e levar pra casa)

Não sei se sou ingênua ou horrorosa, mas nunca saí de lá com ninguém. Enfim. Fomos eu, Avi, meu flatmate Shay (que, por sinal, ontem cozinhou batatas ao forno com frango e arroz, delícia! Será que o fato de eu não saber cozinhar também tinha que estar na lista aí de cima?), o Yotam(amigo do Avi) e mais duas amigas deles que eu conheci ontem. Se agregaram dois Danis paulistas.

Entrei no pique das amigas dos meninos e fomos de shots de Jameson. Não demorou muito e o barman comoçou a nos 'mimar' (esse é o verbo que se usa em hebraico, rs). Aí já era. Voltando (eu acho que ainda estou um pouco bêbada), o tempo foi passando e fui conhecendo várias pessoas no bar. Infinitamente mais falante, se é que isso é possível. Vamos pular essa parte e também a parte que o Avi me trouxe pra casa e me colocou na cama, deprimente. Eu sempre odiei cuidar de bêbado! Não sabe brincar, não desce pro play.

Já de pijama, bêbada, deitada na cama, inventei fazer arte. Nathalia, prazer.
Quem me veio à cabeça? Meu desaparecido Sujinho. Pois é, senhoras e senhores, não foi à toa que esse blog parou de dar notícias do meu melhor amiguinho especial dos últimos tempos. Ele simplesmente parou de me atender. Quase um mês sem vê-lo.

Ontem, às 4 da manhã, eu resolvi que ele ia me atender. E atendeu. Não sei quem estava mais pra lá. Disse que estava puto porque eu não parava de ligar e que não ia vir. Quê?! Talvez eu ainda seja um pouco mimada, odeio escutar não. Mas quem gosta? Ainda bem que eu sou determinada. Ele me fez prometer que seria a última vez e chegou em menos de 5 minutos.

Me contou que já tem passagem comprada. Fiquei sóbria na hora. A situação piorou quando ele disse que embarca pra Londres dia 6 de dezembro, em 3 semanas. Perguntei se ela ia, ele disse que não sabia ainda. Perguntei para quando estava marcada a volta, ou pra quanto tempo a passagem estava aberta... Ele respondeu que não tem passagem de volta, quer ficar pelo menos um ano fora e que não tem o que fazer aqui.

Levantei e fumei um cigarro. Na verdade, eu tenho que ficar feliz. Finalmente ele vai sair da minha vida, eu querendo ou não. Eu ainda disse que se ela não fosse, eu ia visitá-lo. Ele riu. Daí eu disse 'Você não sabe que eu sou maluca?`. Ele balançou a cabeça que sim, me pareceu realmente convencido.

Rapidinhas:
* A festinha de Bezalel foi show mesmo. Existem outros Sujinhos em Jerusa!

* A faculdade: Sinistro!!!

* Eis que estou de emprego novo, profissão antiga: Voltei a ser garçonete num café aqui perto de casa. Shit!

* Eu vou fazer greve de posts se vocês não começarem a deixar recados pra mim. Eu sei que vocês entram, lêem e caem fora. Deixem um oi, pô!

domingo, novembro 05, 2006

Momento Mastercard


Pois ontem foi um desses momentos que não tem preço. Saí da toca e fui passear ontem à noite em Tel Aviv, me juntar às milhões de pessoas que foram recordar o assassinato de Itzchak Rabin, 11 anos atrás.

Muita gente, todo tipo de placas e os tradicionais adesivos, que os israelenses tanto gostam. Dentre eles, `SOS Gaza`, ` Talk with Syria` e esse que vocês podem ver em parte na foto `Sim à paz, não à violência`. Em cima do palco, ao lado da foto de Rabin, `11 anos do assassinato`. Diversos artistas marcaram presença, mas o ponto alto foi o discurso da filha de Rabin. Muito emocionante! Minuto de silêncio, musicas pela paz... Pra fechar, hino de Israel. Hatikva, esperança. É nessas horas que eu sinto na pele o porquê de estar aqui e me orgulho dessa trajetória, que apesar de ser sofrida, compensa.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Anotações de aula

Ainda não cheguei num acordo comigo mesma sobre o idioma oficial dos meus cadernos. Começo sempre em hebraico, porque parece que escutar e escrever a mesma língua agiliza o trabalho. E isso é bem verdade, até cruzar com a primeira dúvida de ortografia (geralmente, isso não demora muito pra acontecer). Tento escrever de qualquer maneira, pra continuar acompanhando a aula, mas não consigo ignorar o erro. Aí, nesses dois segundos de dúvida, foi-se o pensamento do professor. Pedir pra repetir?

O cenário é um auditório gigantesco, onde quase 300 alunos escutam o Doutor Levenheim filosofar sobre as diferentes definições de Estado, de acordo critérios filosóficos desse ou daquele... Pera aí, de quem?! Fica pra aula do monitor. Claro, ou vocês acham que o Doutor tem tempo pra fazer exercícios, explicar as provas e trabalhos? Isso eles deixam pros monitores, que nos dividem em grupos menores e dão aulinha também. Meu monitor de Introdução a Relações Internacionais é mais novo do que eu, com certeza tem menos tempo de vida universitária também. E é esse pirralho que vai corrigir meus trabalhos.

Os trabalhos, aliás, merecem um parágrafo exclusivo. Acho que meu primeiro já vai ser mais pesquisado e elaborado do que a monografia da PUC. Ai, que saudades da PUC....

Apesar de bombar de gente na faculdade - e gente da mais estranha, claro, como tudo na Terrinha - os hábitos são um pouquinho diferentes. A boa do social são os gramados espalhados pelo campus-labirinto enorme, que são o point da galera. Pegar solzinho no inverno frio de Jerusa durante o intervalo das aulas é o que há.

Fato que exemplifica minha inexperiência na Hebrew University: essa semana sentei na grama de manhã cedo, e o molhadinho do orvalho com laminha deixaram sua arte na minha calça bege. Super agradável. Andei com um cachecol pendurado na cintura o resto do dia letivo.
Nessas horas deprimentes que eu sim invejo meus flatmates.

Como já contei aqui, os dois estudam em Bezalel, Escola de Artes. Lá está a maior concentração de Sujinhos do país. Além disso, eles são tem um livro sequer e passam as noites cortando e colando, desenhando e pintando. Eles tem dj no intervalo das aulas!

Enquanto isso, eu me divido entre as leituras sem fim em inglês (ainda assim, tenho que jogar as mãos pro céu e agradecer pela maior parte do material ser in english), as aulas de hebraico, de inglês, de Introdução a RI e de RI no século XX (a mais chata de todas, a que o professor fala maaais enrolado e tem o pensamento mais desorganizado que o meu). Esses dois últimos cursos vão me acompanhar até o próximo inverno. Nos idiomas, pretendo conseguir o diploma no fim do semestre. Be ezrat hashem!

Definitivamente, aquele friozinho na barriga dos primeiros dias de PUC não volta... As saídas com as meninas, aulas inúteis, matar aula terminando outro trabalho, comer no Couve Flor, aulas úteis, entender toda a aula e todas as piadas da aula (até as que a gente preferia fingir que não entendeu), xérox nas casinhas, feirinhas, brigadeiro, cookie, o mega social, chopadas... Tá, isso eu comparo semana que vem, depois de ir à festa de abertura do ano letivo de Bezalel. Ha-ham... ;)