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Minhas aventuras pela Terra Santa!

quarta-feira, novembro 15, 2006

Pedrinha no sapato

Meu coração não fica assim tão apertado desde que eu saí do Brasil. Aquela sensação de estar se separando de pessoas queridas, que você não sabe quando vai ver novamente. Pessoas que preenchem a sua vida e que dão sentido à ela. Pessoas perto das quais você se sente o mais autêntico você, que te entendem por um gesto mínimo. Pessoas que você quer pra sempre levar no coração.

Eu já tenho umas pessoas aqui assim, mas o lugar daquelas ninguém tira. Eu confesso que a gente acaba se acostumando com esse incômodo. Ele não some, nunca. Tá sempre ali, aquela pedrinha no sapato. Às vezes, você sente mais a pressão, dói. Mas, pra sufocar a tristeza, a gente acaba chegando num acordo com ela.

Hoje eu acordei e senti que ganhei mais uma pedrinha no meu sapato, que já esta pesado, cheio de pedras preciosas. É o Sujinho.

Ontem à noite eu quase fui pra um blind date. Mas desisti bem antes de cometer a loucura de viajar até Tel Aviv pra isso. Sosseguei aqui em Jerusa e fui comer lasanha na casa do Ri. Depois fomos pra casa da Alexia, uma espanhola que estuda com ele, e tiramos fotos pra um trabalho da faculdade do Ri. De lá, partimos pra uma cerveja. Estava toda maquiada, por causa da produção das fotos. Fiquei um pouquinho e decidi, à uma da manhã, que era hora de dormir. Hoje eu tinha aula de manhã cedo e trabalho à noite.

Do bar, mandei aquela mensagem pro Sujinho com um ponto final, ".". É o nosso sinal de que eu quero vê-lo. Eu tinha certeza que ele estava em algum lugar por ali, no centro. Ele não respondeu e eu voltei pra casa.

Coloco o pijama, lavo o rosto até sair toda aquela maquiagem e coloco uma máscara hidratante verde na cara. Ele me liga:

- Eu vou porquê nós precisamos conversar.
- Conversar? (digo eu, revoltada)
- Sim, se você quiser pode me fazer massagem também (risos).
- Não quero conversar. Já sei o que é, e eu não quero me separar de você.
- Como voce sabe o que é?
- Porque só existem duas opções, ou você vai me dizer que não pode mais me ver ou vai me pedir em casamento.
- E qual delas você acha que é a melhor?
- Pra você? Casar comigo, voce só nao sabe ainda.
- Tô aqui em frente, não tem vaga na droga da sua rua. Vem aqui fora.
- Não quero, tô de pijama.

Tiro a máscara verde da cara e saio eu, de pijama, pra ajudá-lo a encontrar vaga. Encontramos. Eu vou abracá-lo e ele se afasta. `Vim pra conversar`. Chegamos em casa e meus dois flatmates estavam acordados. Ele entra correndo no quarto, pra não ser visto. Bobo.

Acende um cigarro pra mim, outro pra ele, e comeca a fuxicar minhas coisas. Ele tem essa mania, desde a primeira vez que veio aqui. Abre armários, pergunta sobre as fotos, vê os filmes. Ontem vimos o dvd do Brasil que mostra o shabat que fizemos na casa da Fefa e os preparativos pro meu churrasco de aniversário em Itaipava. Eu e a Lygia às seis da manha no Mc Donald's, o Shenanigan's. Ele morreu de rir com a gente cantando musiquinhas em hebraico.

Me perguntou se eu já tinha arrumado um namorado. Perguntou onde eu estive ontem e com quem. Pegou meu celular e viu as últimas chamadas feitas, e ler os nomes dos homens em voz alta. Viu que troquei o nome dele por `Não!`. Sugeriu que eu trocasse por `Realmente não!`, porque só o `Não!` não estava fazendo efeito.

Foram horas de conversa fiada, risos, brincadeiras - há muito tempo não me divertia tanto. Tinha vontade de congelar as horas, não pensar na realidade, estar presa naquelas gargalhadas, cosquinhas, abracos. Quando a claridade comecou a bater na janela, nos abraçamos com força.
Eu perguntei se ela ia com ele. Me disse que o encontra em Londres em Janeiro. Minha vez de acender dois cigarros.

- Você não se sente culpado de mudar a vida de outra pessoa assim, à toa? Porque se você a trai aqui, certamente lá nao vai ser diferente.
- Não, é pro bem dela. Não tem o que fazer aqui. Além disso, já te disse, eu não costumo traí-la.
- Você sabe que já fazem quase 3 meses que a gente tá junto?
- 3 meses? Impossível! (refresquei a memória dele)
- Tá vendo, hora de acabar com isso mesmo. Não é possível que não tenha achado ninguém nesse tempo.
- Se você quer saber a verdade, desde que eu te conheci não saí com mais ninguém.
- Mentira, pára.
- Verdade.
- Mentira! E as 3 semanas que eu nao te atendi?
- Eu fiquei desesperada.
- Eu sou uma doença!
- Sim, senhor.
- E ainda assim você diz que eu sou `na média`, né?
- hahahaha

Claro, né, gente? Vou deixar o menino achando que é o méximo? Ontem até reclamei da preguiça dele. Me pediu pra dizer o que ele tem que mudar.

- Eu? Claro que não. Pra você ir praticar com as inglesas?
- Pois é, as inglesas devem ser muito ruins mesmo, estou mais que bom pra elas.
- Não exagera, vai (risos). Agora fala, o que é que você queria me dizer?
- Essa foi a última vez, babe.
- Não concordo.
- Alguém te perguntou? (risos)
- Baixa a bola. Não concordo. Você viaja em duas semanas, nao é isso? Pelo menos mais duas vezes. E uma delas você dorme aqui.
- Opa, opa! Como assim? Tá, uma vez eu durmo aqui. Prometo que venho pelo menos uma vez.
- E daí você leva sua escova de dentes embora, toda vez que eu vou escovar os dentes a vejo e lembro da sua cara feia.
- Tá prometido.
- E quando você voltar também. Promete que a gente vai se encontrar.
- Eu nem fui ainda...
- Quando você volta?
- Não acho que vá voltar a morar aqui um dia. Mas venho em Pessach visitar, tenho que vir, senão minha mãe me mata.
- E Chanuka? Purim? Iom Haatzmaut?
- Chanuka é agora.
- Duvido que você não volte. Sua família, sua casa, seus amigos, 23 anos da sua vida...
- Você não está aqui?
- Sim, por enquanto. Vai saber. E você não sabe o quanto isso dói.
- Claro que a gente vai se encontrar quando eu vier. Prometo. Me leva na porta?

Ele foi embora.
(Querem ver foto dele? Aqui.)

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Vc nao muda, hein, doidinha?
E ainda tã me devendo o video do shabat... hahaha
Beijos

3:13 AM  
Anonymous Anônimo said...

Nathy, isso é foda, hem?! Ta parecendo eu, com minhas paixões por caras comprometidos, ou q moram longe, ou os dois juntos!!! Socorro! Sai dessa. É furada! É difícil, mas não tem outro jeito...
Bjos!

3:48 PM  
Anonymous Anônimo said...

Nathy, esse comentário aí em cima fui eu q escrevi, mas saiu anônimo sem querer...

3:48 PM  
Anonymous Anônimo said...

e cade a foto?

5:34 PM  

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