Palhaçadas
Sete e quarenta e cinco da manhã de sexta-feira. Nem acredito que meu despertadou já tocou. Não faz nem um segundo que me atirei na cama! Lembro aos esquecidos que não se trabalha aqui em Israel na sexta-feira (em compensação, nossa semana começa no domingo. Cá pra nós, muito pior. Sem contar que tudo fecha às 3 da tarde. Vou sair daqui correndo pra comprar comida e me abastecer para o shabat. Correndo, hã? Mal consigo manter meus olhos abertos. A russa que tá trabalhando atrás de mim não pára de falar a língua que eu mais irritante do mundo e não me deixa apagar a luz da sala. Além de tudo, acho que ela tá com um probleminha de gases... The feeling is "I wanna die")
Vou dormir o fim de semana inteiro. Assim vou me sentir cumprindo o sagrado dia do descanso, pelo menos uma vez. Não vou nem acender a luz. Durante toda a semana, durmi uma média de 4 horas por noite. Dia, noite e madrugada preparando o trabalho que me deu mais trabalho do que a minha monografia.
De tão difícil que foi, cheguei a pensar que eu tinha algum problema. Mas não, é a falta de costume de quem estudou (jornalismo) no Brasil.
Aqui na Hebrew University não tem moleza mesmo. Essa matéria, Relações Internacionais no século XX, dura um ano. Nesse primeiro trabalho cada um recebeu um tema e tinha que fazer uma pesquisa histórica. A tal pesquisa durou cerca de dois meses. 15 páginas, pelo menos 8 fontes, sem usar duas no mesmo autor e de décadas diferentes.
Meu tema? Precisava responder à interessantíssima pergunta "Quais os motivos da não intervenção francesa na Guerra Civil Espanhola?". Li tanto que me sinto íntima do ex Premier francês, Léon Blum. O Ministro de Relações exteriores da Inglaterra então... amigão imaginário. Pensei tanto neles durante as últimas noites que invés dos gatos (que não, ainda não envenenei), é capaz de virem os dois pra puxar meu pé à noite.
Se vocês estão imaginando "Ora pois, pra que serve a nossa amiga internet?", não pensem que isso não me passou pela cabeça desde o primeiro instante. Mas vejam bem: Não tem intervenção, não tem material. E olha que eu fuxiquei mesmo...
Bom, passado. Meu filho nasceu, espero que saudável. Agora é hora de (dormir e) me preparar pras provas, que começam semana que vem. Se eu sobreviver a isso, meus caros, consigo tudo mais que eu quiser no mundo.
Mas vamos falar besteira porquê eu não aguento mais isso. Sujinho?
Como contei no post anterior, voltamos a nos falar essa semana. Todo Santo dia.
Anteontem ele me contou que, quase por milagre, passou muito bem na prova de Gastronomia mais sinistra da Inglaterra e que recebeu uma proposta milionária de uma Universidade (que eu obviamente esqueci o nome) pra ser chef lá. Nos dois dias seguintes, ia fazer provas práticas e disse que esse trabalho era tudo que ele queria.
Bom, eu fiquei super feliz por ele, né? Afinal, nos falamos quase que todos os dias desde que ele se mudou pra la, e o coitado estava sofrendo mesmo... Sozinho, trocando todo dia de trabalho...
Fiquei realmente muito feliz, e mais ainda por sentir que ele estava compartilhando aquele momento comigo, sabem?
Eu disse pra ele que realmente estava pensando em ir visitá-lo em Londres, um fim de semana que seja. Ele me pergunta "Esse agora?", eu digo "Não, palhaço, depois das provas". E aí ele me responde " Ah, tá. Nesse vem a minha namorada".
Parece que a palhaça aqui sou eu. Desejei boa sorte e desliguei.
Espero que dessa vez eu tenha aprendido a lição.